Caminhava sozinha e à medida que me distanciava,
sentia que o vento que me desmanchara os cabelos,agora, era quente...
teimosamente quente.
Olhava para trás,
percebia que meu rastro estava invertido.
Mas eu caminhava para frente, como isso seria possível?
Parei, olhei dos lados, percebí então que nunca saí do lugar.
Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
que me extravio às vezes ao sair das próprias sensações que eu recebo.
O ar que respiro, este licor que bebo,
pertencem ao meu modo de existir,
e eu nunca sei como hei de concluir as sensações que a meu pesar concebo.
Nunca propriamente reparei, se na verdade sinto o que sinto.
Eu serei tal qual pareço em mim?
Serei tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco descrente,
nem sei bem se sou eu quem em mim sente.
*Álvaro de Campos
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